Também conhecido como
Enteropatia induzida por glúten
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Este artigo foi modificado pela última vez em 26 de Junho de 2023.

O que é?


A doença celíaca é um distúrbio autoimune caracterizado por uma resposta imunológica inadequada ao glúten - proteína da dieta encontrada em cereais (trigo, centeio, cevada, entre outros) - em pessoas geneticamente predispostas. Essa resposta inadequada causa inflamação das paredes do intestino delgado com destruição de suas vilosidades, que são diminutas dobras na parede do intestino que aumentam a superfície da mucosa, facilitando a absorção de nutrientes. Com a destruição das vilosidades, há diminuição da capacidade de absorção, provocando sintomas associados a desnutrição.

A inflamação observada na doença celíaca está associada a autoanticorpos. Em pacientes com doença celíaca, quando o organismo é exposto ao glúten, há produção de anticorpos que reagem não só com as proteínas dos cereais, mas também com constituintes das vilosidades intestinais. Enquanto continuar a exposição ao glúten, o corpo mantém a produção desses autoanticorpos e, portanto, a lesão intestinal. 

A doença celíaca ocorre em todo o mundo, mas é mais frequente em descendentes de europeus. Pode afetar qualquer pessoa em qualquer idade, porém é mais comum em mulheres. Acredita-se que haja uma tendência hereditária desencadeada por fatores ambientais, emocionais ou físicos, embora não se compreenda o mecanismo preciso. 

Os sintomas dessa doença incluem:

  • Dor e distensão abdominal
  • Anemia não responsiva à reposição de ferro 
  • Tendência a hemorragia
  • Sangue nas fezes
  • Dores ósseas e articulares
  • Alterações do esmalte dentário
  • Diarreia ou constipação crônicas 
  • Fadiga
  • Fezes gordurosas com mau cheiro
  • Intolerância à lactose (causada devido ao acometimento das vilosidades intestinais)
  • Úlceras na boca
  • Fraqueza
  • Perda de peso
  • Dermatite herpetiforme (lesões características com bolhas e coceira na pele)
  • Em adultos, infertilidade ou osteoporose 
  • Em crianças, atraso do desenvolvimento e baixa estatura 

Alguns desses sintomas são observados em outras doenças, incluindo alergias alimentares.

Além disso, pessoas com doença celíaca possuem um risco aumentado de desenvolver linfomas e outros tipos de neoplasias intestinais e doença coronariana. Há relatos também de maior risco no desenvolvimento de diabetes mellitus, esclerose múltipla e epilepsia.  

Estima-se que 1 em cada 100 pessoas no mundo tenha a doença, porém menos de um terço delas são diagnosticadas. Isso ocorre em parte porque os sintomas variam muito entre cada indivíduo. De acordo com a Celiac Sprue Association, dos EUA, somente 10% das pessoas com doença celíaca apresentam sinais típicos de má absorção. Cerca de 40% têm sintomas menos típicos e 33% não possuem nenhum sintoma associado. As manifestações da doença variam com a idade e o grau de desenvolvimento. Como os mesmos sintomas podem ocorrer em em outras patologias, o diagnóstico de doença celíaca pode ser desconsiderado ou retardado durante anos.

Exames


Os exames em geral são feitos em pessoas com sintomas. Embora no momento não seja recomendado uma triagem geral, quando o médico considerar que há um risco aumentado da doença podem ser realizados exames em familiares assintomáticos de pacientes com doença celíaca, visto que 4 a 12% dos familiares próximos de uma pessoa com doença celíaca também têm a doença. 

No passado, a única maneira de obter o diagnóstico era analisar uma biópsia do intestino delgado. Esse método continua a ser o padrão ideal para confirmar doença celíaca, mas a criação de métodos menos invasivos reduziu o número de biópsias necessárias.

O melhor exame inicial para o diagnóstico é a pesquisa de anticorpos IgA contra a transglutaminase tecidual. Se o resultado for positivo em paciente com suspeita clínica, é provável que o paciente tenha doença celíaca. Se for negativo, é possível pedir outros exames, como o anticorpo anti-endomísio, anti-gliadina deaminase e anti-reticulina, além da dosagem de IgA total (cerca de 3% das pessoas com doença celíaca possuem deficiência de IgA, levando a um antitransglutaminase IgA negativo. Nesse caso, é indicado a dosagem de anti-transglutaminase IgG para melhor avaliação). Estes exames são melhor discutidos na página de exames para a doença celíaca.

A qualquer momento, o médico pode pedir uma biópsia intestinal para verificar se há lesão das vilosidades intestinais.

Outros exames para avaliar a gravidade da doença e a extensão da desnutrição e do envolvimento de órgãos incluem:

Após o paciente manter uma dieta sem glúten durante algum tempo, podem ser realizados um ou mais exames com o objetivo de descobrir se os níveis de anticorpos diminuíram, sendo o principal exame de acompanhamento o anticorpo anti-transglutaminase IgA. Queda na dosagem do anticorpo indica que o tratamento está sendo eficaz. Se os sintomas do paciente não melhoram com a dieta, os exames ajudam a verificar se ela não foi seguida, se está inadequada ou se há outras razões para persistirem os sintomas.

Recentemente foram desenvolvidos testes genéticos que pesquisam marcadores associados à doença celíaca. Eles detectam os antígenos leucocitários (HLA) DQ2.5 e DQ8. Um resultado positivo não é diagnóstico de doença celíaca porque cerca de 30% da população possuem esses marcadores, mas não têm a doença. Entretanto, um resultado negativo ajudar a excluir a doença em pessoas com outros exames duvidosos, incluindo a biópsia, porque mais de 90% das pessoas com doença celíaca possuem pelo menos um desses antígenos.

Tratamento


Pacientes com doença celíaca devem manter uma dieta sem glúten durante toda a vida. Geralmente, isso exige a orientação de um nutricionista e uma revisão cuidadosa de todos os ingredientes dos alimentos ingeridos, bem como de outros produtos que não alimentos, como medicações, suplementos, pasta de dente, entre outros. Quando todas as formas de cereais são removidas da dieta, os níveis de autoanticorpos diminuem e o intestino volta ao normal.

Embora a lesão intestinal da doença celíaca seja reversível, podem ser permanentes alguns efeitos da desnutrição prolongada, como baixa estatura e ossos frágeis. É importante detectar e tratar essa doença o mais cedo possível, especialmente em crianças pequenas. Ela deve ser considerada em bebês que não estão se desenvolvendo, porque são comuns alimentos com glúten e os autoanticorpos da doença podem começar a ser produzidos quando a criança passa da dieta baseada em leite para alimentos mais sólidos.

Os pacientes que mantêm uma dieta estrita sem glúten permanecem sem sintomas e podem levar uma vida normal. Entretanto, se voltarem a ingerir esse tipo de alimento, as lesões e os sintomas retornam em pouco tempo. Mesmo aqueles sem sintomas ou com poucos deles podem desenvolver complicações, como deficiências nutricionais e diminuição da densidade óssea.

Uma pequena parcela de indivíduos com doença celíaca não responde à dieta sem glúten ou não mostra melhora da lesão intestinal. Esses pacientes precisam de intervenções médicas adicionais e de apoio nutricional, como injeções de vitaminas.

Páginas relacionadas


Neste site
Testes: exames para doença celíaca, proteínas totais, albumina, cálcio, vitamina D, autoanticorpos
Estados clínicos/Doenças: distúrbios autoimunes

Em outros sites da Internet
Celiac Disease Foundation
American Autoimmune Related Diseases Association
Medlineplus Health Information: Celiac Disease
Celiac Sprue Association CSA/USA On-Line
University of Maryland Center for Celiac Research
Gluten Intolerance Group

Fontes do artigo

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