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Triglicerídeos

Este artigo foi revisto pela última vez em 27 de Outubro de 2008.

Este artigo foi modificado pela última vez em 24 de Maio de 2019.

Também conhecido como:

  • Triglicerídeo
  • Triglicérides

Amostra:
Sangue

É necessária alguma preparação?
Os padrões atuais recomendam que a coleta seja feita com a pessoa em jejum (de alimento e bebida) de 9 a 12 horas. Em algumas situações, pode-se não recomendar o jejum. Alguns remédios e alterações fisiopatológicas podem causar interferências. 

Por que fazer este exame?
Para avaliar o risco de doença cardíaca, o exame de perfil lipídico é realizado durante checkups de rotina. Ele é especialmente indicado para pessoas com fatores de risco cardiovascular ou em tratamento para altos níveis de triglicerídeos.

O que está sendo pesquisado?

O triglicerídeo (TG) é um lipídio hidrofóbico composto de ácidos graxos e glicerol. É originário da dieta – ou retirada da circulação pelo fígado. Para o processo de absorção do TG, necessita-se que a lipase pancreática, uma enzima secretada pelo pâncreas, consiga hidrolisá-lo (quebrar) para que os seus subprodutos, com auxílio dos sais biliares, sejam absorvidos pelos enterócitos, células do intestino. Nos enterócitos, o ácido graxo e glicerol são ressintetizados, pela ação da acil-CoA, voltando à forma de triglicerídeo. Por ser hidrofóbico (não se misturar a água), necessita se ligar a uma lipoproteína para conseguir circular no plasma sanguíneo. Essa lipoproteína é composta por TG, ésteres de colesterol, uma camada externa constituída de colesterol livre e, por fim, algumas proteínas  [1,2]. 

Com isso, nos enterócitos, ocorre a lipidação de uma apolipoproteína (apoB48) iniciando a formação de quilomícron. A célula, por exocitose, libera esse quilomícron no sistema linfático e, posteriormente, na circulação sistêmica, ocorre a sua modificação. Essa mudança nos quilomícrons ocorre devido captarem outras lipoproteínas e colesterol após a interação com partículas de high density lipoprotein (HDL). Esse quilomícron modificado será removido pelo fígado. Então, em condições normais, os quilomícrons só podem ser encontrados na corrente sanguínea após a alimentação [1,2] 

O tecido hepático sintetiza e secreta a very low density lipoprotein (VLDL) e com isso transporta TG para os tecidos periféricos. Uma enzima endotelial (localizada na superfície das células dos vasos sanguíneos) chamada lipoproteína lipase (LPL) permite que o TG localizado no interior do VLDL seja hidrolisado e liberado para as células. Desse modo, esse VLDL fornecerá apolipoproteína para HDL e, consequentemente, formará os remanescentes da VLDL ou intermediate density lipoprotein (IDL). O IDL ou será removido pelo fígado ou se transformará em low density lipoprotein (LDL), o principal transportador de colesterol plasmático [1,2].

Em resumo:

  • TG é formado de ácido graxo e glicerol
  • TG precisa se ligar a apoproteína para conseguir circular no plasma. 
  • TG armazenado nos quilomícrons interage com HDL
  • O fígado absorve os quilomícrons com o TG da dieta.
  • O fígado sintetiza e secreta VLDL (que contém TG)
  • VLDL transporta TG para tecidos periféricos e interage com HDL
  • VLDL se transformará em IDL que será removido pelo fígado ou se transformará em LDL.
  • LDL é o principal carreador de colesterol plasmático. 

Níveis altos de triglicerídeos no sangue estão associados a um risco aumentado de doença cardiovascular. Há uma relação entre o processo inflamatório, aumento da ligação de LDL, atuação dos macrófagos sobre os ésteres de colesterol acumulado, a ampliação da inflamação e formação de placas ateroscleróticas e aumento da internalização de lipídios nos vasos sanguíneos [3].

Perguntas Frequentes

O perfil lipídico, incluindo triglicerídeos, é recomendado a cada 5 anos em adultos saudáveis para avaliar o risco de doenças cardíacas. O exame em geral não é pedido isolado porque o risco de doença cardíaca se baseia também em outros exames. Pode ser pedido com maior frequência para quem têm fatores de risco de doença cardíaca identificados ou para monitorar pessoas que têm níveis altos de triglicerídeos e estão sendo tratadas [7] .
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda solicitar perfil lipídico nas crianças de 2 a 8 anos quando há múltiplos fatores de risco e história familiar de doença arterial coronariana ou de hipercolesterolemia familiar, obesidade, tabagismo passivo e diabetes melito.

Triglicerídeos são mais comumente analisados pelo método enzimático colorimétrico. A hidrólise de ácidos graxos e glicerol é catalisada pela lipase. Ocorre a fosforilação do glicerol formando glicerol fosfato. Este é oxidado em dihidroxiacetona e peróxido de hidrogênio, o qual é catalisado por uma peroxidase, gerando uma pigmentação colorida e mensurável [4].  

Os padrões atuais recomendam que a coleta seja feita com a pessoa em jejum (não comer ou beber) entre 9 a 12 horas. Além disso, não deve ser ingerido álcool durante 24 horas antes da colheita [5]. A Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção de Aterosclerose 2017 recomenda que idosos, diabéticos, gestantes e crianças não façam jejum para evitar os riscos de hipoglicemia secundária. 

As amostras de TG sem jejum, na triagem, tem o mesmo valor prognóstico do que as com jejum. No entanto, os valores de TG ficam mais elevados sem o jejum e os valores de referência devem ser diferentes [2]. 

Hipertriglicemia (HTG) (aumento dos valores de TG) pode ser dividida em primária e secundária. Sendo as primárias originárias de determinantes monogênicos e poligênicos. Já a secundária é multifatorial [2].

Hipertriglicemia primária:

  • Grave (TG >10 mmol/L ou 885mg/DL):
    • Quilomicronemia monogênica
    • Deficiência de lipoproteína lipase
    • Deficiência de GP1HBP1
    • HTG infantil transitória

Hipertriglicemia secundária:

  • Dieta com elevada taxa de energia
  • Aumento do consumo de álcool
  • Obesidade 
  • Síndrome metabólica
  • Diabetes Mellitus tipo 2
  • Hipotireoidismo
  • Doença renal
  • Gestação (principalmente no terceiro trimestre)
  • Lúpus Eritematoso Sistêmico
  • Medicamentos: corticosteróides, estrogênio oral, tamoxifeno, tiazídicos, betabloqueadores não cardiosseletivos, ciclofosfamida, sequestradores de ácido biliares, L-asparaginase, inibidores da proteases, antipsicoticos de segunda geração. 

Alguns fatores de risco para doença cardíaca incluem [6]:

  • Dislipidemia 
  • Diabetes
  • Tabagismo
  • Hipertensão arterial.
  • Diabetes mellitus.

Os triglicerídeos devem ser medidos como parte do perfil lipídico e o médico levará em consideração o resultado de cada componente do perfil.
Em adultos, em jejum, os resultados de triglicerídeos são classificados como [6,7]:

  • Desejável: menos de 150 mg/dL.
  • Limítrofe: 150-199 mg/dL.
  • Alto: 200-499 mg/dL
  • Muito alto: acima de 500 mg/dL

Em adultos, sem jejum, os resultados de triglicerídeos desejáveis são menores do que 175mg/dl. Além disso, se os valores na ausência do jejum superarem 440 mg/dl, deve-se repetir o teste em jejum de 12 horas [6,7].

Quando os triglicérides estão muito altos (mais de 1.000-1.500mg/dL) há risco de desenvolver pancreatite. O tratamento para diminuir os triglicerídeos deve ser iniciado o mais cedo possível para deixar o valor de TG  inferior a 500 mg/dL  [9].
Em crianças de 0 a 9 anos os resultados de triglicerídeos desejáveis são [8]:

  • Em jejum: menos de 75 mg/dL.
  • Sem jejum: 85 mg/dL.

Em pessoas de 10 a 19 anos os resultados de triglicerídeos desejáveis são [8]:

  • Em jejum: menos de 90 mg/dL.
  • Sem jejum: 100 mg/dL.

Em muitas pessoas, níveis altos de triglicerídeos são causados por distúrbios como diabetes, obesidade, doença renal ou alcoolismo. Nesses casos, deve-se tratar o agente causal. Quando a elevação dos níveis de triglicerídeos não é causada por outro distúrbio, em geral, acompanha uma elevação do colesterol, desse modo, o tratamento tem como objetivo diminuir os níveis de colesterol e de triglicerídeos [2].
O primeiro passo para se diminuir esses níveis é fazer mudanças de estilo de vida, como uma dieta saudável (reduz de 10 a 15% do valor de TG) e aumento de atividade física reduz de 10 a 20% do valor de TG). Se não forem suficientes, em geral são recomendados medicamentos para baixar os níveis de lipídios, como estatinas [2].

Revisado em 27/12/2024 por Edy Alyson.

  1. Hassing HC, Surendran RP, Mooij HL, Stroes ES, Nieuwdorp M, Dallinga-Thie GM. Pathophysiology of hypertriglyceridemia. Biochim Biophys Acta. 2012;1821(5):826-832. doi:10.1016/j.bbalip.2011.11.010.
  2. Laufs U, Parhofer KG, Ginsberg HN, Hegele RA. Clinical review on triglycerides. Eur Heart J. 2020;41(1):99-109c. doi:10.1093/eurheartj/ehz785.
  3. Fan J, Watanabe T. Atherosclerosis: Known and unknown. Pathol Int. 2022;72(3):151-160. doi:10.1111/pin.13202.
  4. A Burtis C, E Bruns D, eds. Tietz Fundamentos de QUÍMICA CLÍNICA E DIAGNÓSTICO MOLECULAR. 7a ed. Elsevier; 2016.
  5. Triglycerides Test: MedlinePlus Medical Test. MedlinePlus – Health Information from the National Library of Medicine. Acedido em 28 de dezembro de 2024. https://medlineplus.gov/lab-tests/triglycerides-test/.
  6. Faludi AA, Izar MC de O, Saraiva JFK, Chacra APM, Bianco HT, Afiune A, et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol [Internet]. 2017,109(2):1–76. doi.org/10.5935/abc.20170121.
  7. Lipid Disorders in Adults (Cholesterol, Dyslipidemia): Screening. Home page | United States Preventive Services Task Force. 30 de dezembro de 2013. Acedido em 28 de dezembro de 2024. https://www.uspreventiveservicestaskforce.org/uspstf/recommendation/lipid-disorders-in-adults-cholesterol-dyslipidemia-screening-2008.
  8. Departamento Científico de Endocrinologia. Dislipidemia na criança e no adolescente – Orientações para o pediatra. Guia Prat Atualização. 2020;(8).
  9. Chait A. Hypertriglyceridemia. Endocrinol Metab Clin North Am. 2022;51(3):539-555. doi:10.1016/j.ecl.2022.02.010.