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Este artigo foi modificado pela última vez em 30 de Novembro de 2019.
Resumo

Fibrose cística é uma doença hereditária relativamente comum causada por mutações de um gene localizado no cromossomo 7. Cada célula do corpo (exceto espermatozoides e óvulos) tem 46 cromossomos, ou seja, 23 pares de cromossomos, herdados um da mãe e um do pai para formar cada par. Os genes nos cromossomos contêm o código para produção de proteínas. Um gene no cromossomo 7 codifica a produção de uma proteína chamada regulador de condutância transmembranosa da fibrose cística (CFTR). Mutações desse gene causam produção defeituosa ou ausente dessa proteína e a fibrose cística. Foram identificadas mais de 1.300 nutações diferentes, algumas mais comuns que outras.

A fibrose cística é uma doença hereditária recessiva. Ocorre quando os dois cromossomos 7 têm uma mutação neste gene. Pessoas em que a mutação ocorre em apenas um cromossomo 7 não apresentam a doença, mas a transmitem para seus descendentes, e são chamadas portadoras. Para que uma criança tenha fibrose cística, é necessário que herde um gene anormal de cada progenitor. A maior incidência de fibrose cística ocorre em causasianos do norte da Europa e judeus asquenazes, populações em que uma em cada 20 a 25 pessoas é portadora.

Pessoas com fibrose cística têm produção e função de CFTR ausentes ou deficientes, o que causa transporte anormal de eletrólitos e água através das membranas celulares epiteliais. Isso provoca acúmulo de muco espesso nos pulmões e no pâncreas, o que facilita infecções respiratórias, provoca obstruções dos ductos pancreáticos e prejudica a digestão. A maioria dos homens com a doença é estéril por ausência ou desenvolvimento insuficiente dos canais deferentes, tubos que transportam os espermatozoides dos testículos para a próstata. A maior parte das pessoas com fibrose cística desenvolve sintomas respiratórios e pancreáticos cedo, embora a gravidade varie bastante entre indivíduos, mesmo entre aqueles com a mesma mutação.

Não se conhece a incidência de fibrose cística no Brasil, já que nem todos os Estados incluem sua avaliação no teste do pezinho. Nos EUA, ela é estimada em 30.000 casos, com 1.000 novos por ano. Não há ainda prevenção ou cura, apenas tratamento dos sintomas. Progressos no tratamento dos sintomas têm permitido aos pacientes vida mais longa e qualidade de vida melhor.

Sinais e sintomas

Sinais e sintomas associados à fibrose cística incluem:

  • Tosse frequente, tosse crônica e excesso de escarro
  • Infecções respiratórias frequentes e persistentes, como bronquite e pneumonia
  • Dor e desconforto abdominal
  • Em recém-nascidos, íleo meconial
  • Diarreia crônica com fezes gordurosas e malcheirosas
  • Perda de peso e desnutrição
  • Dificuldade de desenvolvimento; bom apetite mas pouco ganho de peso e crescimento retardado
  • Níveis baixos de proteínas no sangue e edema

A fibrose cística interfere no equilíbrio de eletrólitos e água do corpo. Na maioria dos pacientes, o suor contém cinco vezes mais sal (cloreto de sódio) que o normal. A perda excessiva de sódio e de cloreto pode afetar a frequência cardíaca e causar hipotensão arterial (pressão baixa) e choque.

O muco lubrificante das vias aéreas fica espesso e pegajoso, facilitando o crescimento de micro-organismos causadores de infecções respiratórias, que precisam ser tratadas com antibióticos. Grande parte da morbidade (número de casos de uma doença em um grupo populacional) da fibrose cística é devida à infecções respiratórias e suas complicações.

A obstrução dos ductos pancreáticos por muco dificulta a secreção de enzimas pancreáticas essenciais para a digestão de proteínas e gorduras no intestino delgado, o que causa desnutrição e carência de vitaminas (daí o antigo nome da doença, mucoviscidose). A reposição oral de enzimas pancreáticas e de vitaminas A, D, E e K, e uma dieta rica em proteínas e com pouca gordura pode aliviar os sintomas. Se a lesão pancreática for avançada, os pacientes podem desenvolver diabetes.

Outros problemas associados à fibrose cística incluem:

  • Cálculos biliares
  • Pancreatite
  • Retardo do crescimento e do desenvolvimento sexual
  • Baqueteamento dos dedos
  • Doença hepática crônica e cirrose biliar
  • Prolapso retal (protrusão do reto através do ânus)
  • Esterilidade masculina (azoospermia obstrutiva)
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Sobre Fibrose Cística
  • Exames

    Mutações do gene da fibrose cística (CFTR). O American College of Medical Genetics e o American College of Obstetricians and Gynecologists recomendam o uso de um painel de 23 mutações mais comuns para triagem de pacientes e portadores de fibrose cística. Alguns laboratórios usam painéis maiores, de 30 a 96 mutações. Esses painéis são usados para pesquisar genes de fibrose cística em casais que pretendem ter filhos. Se forem detectadas mutações no pai e na mãe futuros, o casal deve receber aconselhamento genético sobre o risco de terem um filho com fibrose cística.

    Cloreto no suor, em uma amostra de suor obtida usando um procedimento especial. O nível de cloreto costuma estar aumentado até cinco vezes, mas pode estar normal em casos raros. Esse exame deve ser seguido de estudos genéticos.

    Tripsina e quimiotripsina nas fezes. Pesquisa nas fezes de enzimas produzidas no pâncreas que digerem proteínas da dieta. O normal é um resultado positivo (presença de enzimas). Um resultado negativo indica insuficiência pancreática, causada por fibrose cística ou por outros distúrbios.

    Tripsinogênio imunorreativo. Usado para triagem de recém-nascidos. Método imunológico de pesquisa nas fezes de tripsinogênio, produzido no pâncreas e ativado no intestino para formar tripsina. A ausência nas fezes indica insuficiência pancreática, por fibrose cística ou outras causas. Os níveis sanguíneos de tripsinogênio imunorreativo estão elevados em recém-nascidos com fibrose cística, mas são comuns resultados positivos falsos positivos, causados por outras doenças ou por elevações temporárias.

    Diferença de potencial nasal. O transporte ativo de íons, principalmente sódio e cloro, através das membranas celulares do epitélio nasal gera uma diferença de potencial que é medida. Alterações dessas medidas podem indicar fibrose cística.

    Outros exames são usados para verificar a função pancreática, a fertilidade e infecções pulmonares:

    Exames não laboratoriais incluem radiografias de tórax e de ossos, seriografia gastrointestinal e provas de função pulmonar.

  • Prevençao, Diagnóstico Precoce e Tratamento

    Ainda não há cura para a fibrose cística, apenas tratamentos que procuram diminuir a gravidade dos sintomas e melhorar a qualidade de vida. O tratamento em geral envolve medidas para soltar e remover o excesso de muco nos pulmões, evitar infecções e manter uma nutrição adequada com dietas especiais. Também podem ser incluídos exercícios, fisioterapia e medicamentos, como antibióticos, anti-inflamatórios e broncodilatadores.

    A única forma de prevenção disponível é por triagem de populações selecionadas e aconselhamento genético.

    A detecção precoce pode ser conseguida com pesquisa feita antes do nascimento de mutações do gene da fibrose cística usando amostras colhidas por amniocentese ou vilosidades coriônicas. Programas de triagem de recém-nascidos incluem tripsinogênio imunoreativo e/ou pesquisa de mutações. O diagnóstico precoce permite que os pais sejam informados, procurem um centro especializado e iniciem logo o tratamento do bebê, para minimizar problemas nutricionais e lesões pulmonares.

    Alguns pacientes podem ser submetidos a transplante pulmonar, mas ainda não está clara a influência desse procedimento sobre a duração e a qualidade da vida.

    Houve grandes progressos nos últimos 10 anos em relação a diagnóstico e tratamento, e as pesquisas continuam. As Sociedades Brasileiras de Pediatria e de Pneumologia elaboraram, em 2009, uma diretriz chamada "Fibrose Cística: Diagnóstico e Tratamento".

  • Perguntas para fazer ao médico

    1. Quais são as vantagens dos exames de DNA sobre outros exames de triagem?

    2. Qual é o melhor momento para fazer a triagem?

    3. Meu filho deve fazer os exames para fibrose cística?

    4. Como nossa etnia afeta o risco de fibrose cística? Alguns painéis genéticos contêm mais mutações comuns em nossa etnia? Há informações étnicas e da história familiar suficientes para o laboratório?

    5. Quais são as vantagens e desvantagens de testar os dois pais? Eles devem ser testados ao mesmo tempo ou em sequência?

    6. Para me aconselhar em relação aos exames, você pode discutir os aspectos genéticos ou recomenda procurar um especialista?

    7. Há outras pessoas na minha família que podem ser portadoras e podem se beneficiar com os resultados de meus exames?

Fontes do Artigo

Fontes usadas na revisão atual

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Denise I. Quigley, PhD, FACMG. Co-Director Cytogenetics/Molecular Genetics, Airport Way Regional Laboratory, Portland, OR.

Peter Jacky, PhD, FACMG. Director of Cytogenetics and Molecular Genetics, Airport Way Regional Laboratory, Portland, OR.

Fontes usadas em versões anteriores

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Peter Jacky, PhD, FACMG. Director of Cytogenetics and Molecular Genetics, Airport Way Regional Laboratory, Portland, OR.