A monitoramento de drogas terapêuticas consiste na dosagem de drogas específicas com intervalos pré-determinados a fim de manter uma concentração relativamente constante do medicamento na corrente sanguínea. Os medicamentos monitorados tendem a ter um “intervalo terapêutico” relativamente estreito – ou seja, a quantidade necessária para o efeito desejado não é muito distante daquela capaz de causar efeitos colaterais significativos e/ou sinais de intoxicação. Para manter esse estado de equilíbrio nem sempre é suficiente administrar uma dose padronizada do medicamento. Cada indivíduo absorve, metaboliza, utiliza e elimina medicamentos com taxas diferentes que variam em função de idade, estado geral de saúde, constituição genética e interferência de outros medicamentos que estejam utilizando. Essas taxas podem se alterar com o tempo e variam dia a dia.
Nem todos os medicamentos requerem monitoramento. A maioria tem intervalo terapêutico mais amplo e podem ser prescritos com base em esquemas posológicos pré-estabelecidos. A efetividade desses tratamentos deve ser avaliada mas, geralmente, não é necessário determinar a concentração do medicamento na corrente sanguínea. São exemplos os medicamentos para controle da hipertensão arterial e muitos dos antibióticos administrados para tratamento de infecções bacterianas. Se a infecção é debelada e se a pressão arterial é controlada, significa que os tratamentos foram efetivos.
Por que é importante?
Muitos dos medicamentos que têm sua dose terapêutica monitorada são utilizados por toda a vida. Devem ser mantidos em concentrações estáveis ano após ano, enquanto o paciente envelhece, e passam por situações específicas, como a gravidez, doenças passageiras, infecções, estresses físicos ou emocionais, acidentes e cirurgias. Ao longo do tempo, os pacientes podem desenvolver outros quadros crônicos que também requerem tratamento por toda a vida e que podem afetar o processamento de seus medicamentos sendo monitorados. São exemplos dessas condições doenças cardiovasculares, doenças renais, doenças tiroidianas, doenças hepáticas e HIV/AIDS.
A monitorização de drogas terapêuticas possibilita acompanhar essas mudanças e se adaptar a elas. Permite, também, identificar os pacientes não aderentes ao tratamento (quando o paciente não toma regularmente o medicamento conforme prescrito), identificar o efeito de interações medicamentosas (que podem levar a aumento ou redução da concentração sanguínea esperada para a dose prescrita de medicamento) e ajudar a individualizar a posologia para adequá-la às necessidades de cada pessoa. Juntamente com outros testes, ureia, creatinina e perfil hepático para verificar as funções renal e hepática, a monitorização ajuda a identificar quedas na eficiência e disfunções orgânicas que resultam em prejuízo para a metabolização e eliminação das drogas terapêuticas.
Seguem-se diversas categorias de medicamentos que requerem monitorização, conforme aqui resumido.
CategorIA |
MEDICAMENTO |
UTILIDADE TERAPÊUTICA |
---|
Medicamentos para o coração |
Digoxina, digitoxina, quinidina, procainamida, N-acetil-procainamida (um metabólito da procainamida) |
Insuficiência cardíaca congestiva, angina, arritmias |
Antibióticos |
Aminoglicosídeos (gentamicina, tobramicina, amicacina), Vancomicina, Cloranfenicol |
Infecções por bactérias resistentes a antibióticos menos tóxicos |
Anticonvulsivantes |
Fenobarbital, fenitoína, ácido valproico, carbamazepina, etosuximida, algumas vezes gabapentina, lamotrigina |
Epilepsia, prevenção de crise convulsiva, algumas vezes como estabilizador do humor |
Broncodilatadores |
Teofilina, cafeína |
Asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), apneia neonatal |
Imunossupressores |
Ciclosporina, tacrolimo, sirolimo, micofenolato de mofetila, azatioprina |
Prevenção de rejeição de órgão transplantado, doença autoimune |
Medicamentos anti-câncer |
Metotrexato |
Psoríase, artrite reumatoide, diversos cânceres, linfoma não-Hodgkin, osteossarcoma |
Medicamentos psiquiátricos |
Lítio, ácido valproico, alguns antidepressivos (imipramina, amitriptilina, nortriptilina, doxepina, desipramina) |
Transtorno bipolar (maníaco depressivo), depressão |
Inibidores da protease |
Indinavir, ritonavir, lopinavir, saquinavir, atazanavir, nelfinavir |
HIV/AIDS |
Após anos de estudos, foram estabelecidos os limites de variação para os níveis sanguíneos terapêuticos ideais de cada medicamento. Dentro desses limites, a maioria dos indivíduos será efetivamente tratada sem que haja efeitos colaterais excessivos ou sintomas de intoxicação. A dosagem do medicamento para alcançar esse nível deve ser individualizada. Quando um paciente inicia o tratamento com um medicamento com dose monitorada (ou reinicia após um período de suspensão), o médico aumenta progressivamente a dose e monitora sua concentração no sangue, frequentemente até chegar a um estado de equilíbrio apropriado. Se a concentração sanguínea no paciente estiver muito alta o médico reduz a dose. Com frequência, cada medicamento necessita de algum tempo para que o seu nível se estabilize no sangue. Assim, as correções para mais ou para menos devem ser feitas após alguns dias ou semanas (embora algumas vezes haja necessidade de reduzir a dose rapidamente caso o paciente esteja apresentando sintomas ou sinais clínicos associados à toxicidade). É importante que os pacientes sejam acompanhados por seu médico durante esse processo e que não façam ajustes por conta própria nem suspendam a medicação. As mudanças abruptas podem resultar em um agravamento do quadro e podem causar sintomas agudos.
Uma vez que os resultados obtidos no paciente estejam dentro da faixa terapêutica e seus sinais clínicos indiquem que o tratamento está surtindo os efeitos desejáveis, o médico poderá monitorar o medicamento a intervalos regulares e de acordo com as necessidades para adaptá-lo às mudanças ocorridas no quadro clínico do paciente, a fim de assegurar que o remédio se mantenha dentro do nível terapêutico. A frequência de testes depende do tipo do medicamento e das necessidades do paciente.
Se o tratamento não for totalmente efetivo ou se o paciente estiver desenvolvendo muitos efeitos colaterais ou sinais de toxicidade, deve-se realizar o teste para avaliar se a concentração sanguínea está alta ou baixa. Se isso ocorrer, a dosagem será ajustada. Caso contrário, médico e paciente terão que reavaliar a indicação do medicamento e verificar se é possível substituí-lo por outro disponível.
O momento da coleta de sangue é parte importante da monitorização terapêutica. Quando um indivíduo toma uma dose de medicamento, a concentração no sangue tende a se elevar rapidamente, chega ao máximo (pico) e começa a decair, geralmente atingindo o nível mais baixo (vale) imediatamente antes da próxima dose. Para que o tratamento seja efetivo o nível máximo deve estar abaixo da concentração tóxica, enquanto o mínimo precisa permanecer dentro dos limites terapêuticos. Com base na experiência e em pesquisas, os médicos sabem os momentos de pico e de vale,e irá solicitar a coleta de sangue no momento da concentração mínima (geralmente, imediatamente antes da dose seguinte), da concentração máxima (varia, dependendo do medicamento prescrito) ou, algumas vezes, irá pedir uma coleta aleatória. A interpretação correta e precisa dos resultados depende do momento em que a amostra foi colhida. Se o paciente não estiver usando o medicamento no horário correto, para que o sangue seja colhido com intervalo adequado, ele deve conversar com seu médico antes dea realizar a coleta de sangue.
1. Como o medico estabelece qual a dose do medicamento a ser administrada?
Há vários fatores a serem considerados. Dentre esses estão o peso, a composição corporal, a idade, a temperatura, o estado de nutrição, as funções renal, hepática e cardíaca, a ocorrência de queimaduras, choque ou traumatismo. O médico considera esses fatores ao prescrever a dose e a frequência do medicamento, e, então, adapta a prescrição em função dos resultados obtidos com a monitorização terapêutica.
2. O que eu devo fazer caso esqueça de tomar o medicamento na hora correta?
Nunca faça uso de dose dobrada na próxima vez que tomar o remédio. Consulte seu médico para receber orientações de como proceder.
3. Posso fazer minha própria monitorização em casa?
Não. A amostra de sangue deve ser coletada em horários específicos e os exames realizados em um laboratório clínico utilizando equipamentos específicos.
Neste site
Doenças e estados clínicos: Doença renal, Doença hepática, Doença cardiovascular
Em outros sites da Internet
MedlinePlus Medical Encyclopedia: Therapeutic drug levels
Medical Laboratory Observer: Critical values for therapeutic drug levels
Fontes do artigo
NOTA: Este artigo se baseia em pesquisas que incluíram as fontes citadas e a experiência coletiva de Lab Tests Online Conselho de Revisão Editorial. Este artigo é submetido a revisões periódicas do Conselho Editorial, e pode ser atualizado como resultado dessas revisões. Novas fontes citadas serão adicionadas à lista e distinguidas das fontes originais usadas.
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