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Este artigo foi revisto pela última vez em 27 de Outubro de 2008.
Este artigo foi modificado pela última vez em 24 de Maio de 2019.
Também conhecido como:
Amostra:
Urina, preferencialmente o jato médio, coletada em um frasco estéril fornecido pelo laboratório.
É necessária alguma preparação?
Em geral, não há necessidade de preparo, porém, existem recomendações que melhoram a sensibilidade do teste, como a retenção urinária de 2 horas. Além disso, em grande parte dos casos, o exame pode ser solicitado juntamente com a cultura de urina (urocultura), motivo pelo qual alguns cuidados devem ser tomados.
Kouri et al. (2024) recomendam que a coleta da primeira urina da manhã, após um período de 8 horas de repouso e com retenção urinária superior a 4 horas. Tal recomendação se justifica pela maior probabilidade de crescimento bacteriano na bexiga, o que eleva a sensibilidade do teste de nitrito na detecção de bacteriúria. Contudo, em casos sintomáticos atendidos em pronto-atendimento, o exame pode ser coletado normalmente.
A coleta deve ser realizada cuidadosamente, de modo a evitar contaminação. Estima-se que 40 a 50% do valor diagnóstico do exame pode ser perdido em coletas inadequadas. Por essa razão, a correta higienização do local, associada à obtenção de uma amostra de jato médio, melhora a qualidade do material a ser analisado. Como exemplo, a higienização do introito vaginal e da glande peniana com pelo menos água e sabão (o uso de antissépticos não é recomendado) reduziu em mais de 20% os resultados falso-positivos na cultura de urina. Após a higienização, recomenda-se coletar a urina de jato médio. Para isso, o paciente deve iniciar a micção no vaso sanitário, interromper o fluxo, posicionar o frasco coletor para obter a amostra e, por fim, descartar o restante da urina no vaso (Kouri et al., 2024).
Para crianças e idosos com enurese (perda do controle vesical) e pacientes com bexiga neurogênica, recomenda-se a obtenção da amostra por meio de sonda estéril. Em pacientes com sonda de demora, deve-se remover a sonda antiga e inserir uma nova para então realizar a coleta. Alternativamente, a coleta pode ser feita de uma amostra de jato médio 48 horas após a remoção do cateter. Deve-se evitar a prática de atividade física antes do exame, pois ela aumenta a excreção dos constituintes urinários ao elevar a taxa de filtração glomerular. Não se recomenda às mulheres realizar o exame menstruadas, também não se recomenda o exame após o uso de cremes vaginais. Por fim, caso o paciente tenha realizado algum exame radiológico com uso de contraste nas 48 horas que antecedem a coleta, não se recomenda a realização do teste (Kouri et al., 2024).
Por que fazer este exame?
O exame serve como uma ferramenta de triagem, diagnóstico e monitoramento para uma vasta gama de condições clínicas. É fundamental para avaliar a saúde renal e do trato urinário, detectar infecções e auxiliar no diagnóstico de doenças sistêmicas, como diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e outras afecções cardiovasculares. Permite também avaliar o acometimento renal em certas doenças sistêmicas, como lúpus, vasculites e gamopatias monoclonais. Além disso, algumas informações da urinálise como o nitrito, por exemplo, pode apresentar especificidade para infeção do trato urinário (ITU) (92-100%) que supera os exames de imagem (Figura 1) (Haq & Patel, 2023; Nelson et al., 2024).
Tabela 1 – Performance dos testes diagnósticos para ITU:
| Test result | Sensitivity (%) | Specificity (%) | PPV (%) | NPV (%) |
| Dipstick | ||||
| Positive leukocyte esterase | 72-97 | 41-86 | 43-56 | 82-91 |
| Positive nitrite | 19-48 | 92-100 | 50-83 | 70-88 |
| Positive leukocyte esterase or nitrite | 46-100 | 42-98 | 52-68 | 78-98 |
| Microscopy, WBC/μL | ||||
| >5 | 90-96 | 47-50 | 56-59 | 83-95 |
| 10 | 100 | 36 | NA | NA |
| 50 | 98 | 66 | NA | NA |
| 100 | 93 | 71 | NA | NA |
| 200 | 89 | 86 | NA | NA |
| 300 | 84 | 88 | NA | NA |
| 400 | 77 | 92 | NA | NA |
| Imaging | ||||
| Ultrasonography | 74.3 | 56.7 | NA | NA |
| Computerized tomography | 81-84 | 87.5 | NA | NA |
| Magnetic resonance imaging | 100 | 81.8 | NA | NA |
FONTE: Nelson et al., 2024. Siglas: PPV: valor preditivo positivo. NPV: valor preditivo negativo. WBC: leucócitos. NA: não aplicável.
A urinálise avalia as características físicas, químicas e microscópicas da urina (Haq & Patel, 2023; Kouri et al., 2024):
Nesta fase, avaliam-se a cor (que pode variar de amarelo-claro a âmbar) e a aparência/turvação (classificada como límpida, ligeiramente turva, turva ou leitosa). Alterações na cor podem ser causadas por alimentos, medicamentos ou doenças, enquanto a turvação pode sugerir a presença de células, cristais ou microrganismos.
As principais associações de cores são:
O uso de alguns fármacos, como vitamina C, varfarina, propofol, prometazina, amitriptilina, nitrofurantoína, cloroquina, entre outros, também pode alterar a cor da urina (Haq & Patel, 2023).
Uma tira plástica com pequenas áreas impregnadas de reagentes químicos é mergulhada na amostra de urina. Cada área muda de cor para indicar a presença ou ausência de substâncias específicas, incluindo (Haq & Patel, 2023; Kouri et al., 2024):
A urinálise é solicitada em diversas situações clínicas, tais como:
A interpretação do resultado deve ser sempre realizada por um médico, que analisará os achados em conjunto com o quadro clínico do paciente. Alguns significados gerais incluem:
Urinálise na gestação: Durante a gravidez, a urinálise é um exame de rotina crucial para monitorar a saúde da mãe e do feto. Uma das principais preocupações é a detecção de proteinúria (proteínas na urina), que pode ser um sinal precoce de pré-eclâmpsia, uma complicação grave caracterizada por hipertensão arterial e dano a órgãos. A definição de proteinúria significativa na gestação pode variar, mas geralmente envolve a excreção de 300 mg ou mais de proteína em uma coleta de urina de 24 horas (Fishel Bartal et al., 2022). Alterações fisiológicas da gravidez, como o aumento da taxa de filtração glomerular (o ritmo em que os rins filtram o sangue), podem levar a um pequeno aumento na excreção de proteínas, mas valores acima do limite devem ser investigados rigorosamente. O exame também é usado para rastrear infecções urinárias, que são mais comuns em gestantes e podem levar a complicações se não tratadas (Fishel Bartal et al., 2022).
Urinálise e o cálculo renal: Durante um episódio agudo de dor (cólica renal), o exame frequentemente revela hematúria microscópica (presença de sangue não visível a olho nu) em cerca de 90% dos casos, devido à lesão causada pela passagem do cálculo (Williams et al., 2021). O pH da urina também oferece pistas sobre o tipo de cálculo: um pH persistentemente ácido (baixo) está associado a cálculos de ácido úrico, enquanto um pH alcalino (alto) pode sugerir cálculos de estruvita, relacionados a infecções. A análise microscópica pode identificar cristais (cristalúria), cuja forma pode sugerir a composição do cálculo (ex: cristais hexagonais na cistinúria). Embora a urinálise seja vital, para uma investigação metabólica completa e prevenção de novos cálculos, frequentemente é necessária uma análise de urina de 24 horas (Williams et al., 2021).
O uso de Inteligência Artificial na análise de urina A Inteligência Artificial (IA) está emergindo como uma tecnologia transformadora na urinálise, especialmente na análise do sedimento urinário. Sistemas de microscopia digital automatizada, equipados com algoritmos de IA, são capazes de capturar imagens do sedimento e classificar partículas como hemácias, leucócitos, cilindros e cristais com alta precisão e velocidade (De Bruyne et al., 2023). As principais vantagens do uso da IA incluem a padronização do processo, a redução da subjetividade e da variabilidade entre diferentes analistas, e um aumento significativo na eficiência dos laboratórios. Apesar do grande potencial, a implementação ainda enfrenta desafios, como a necessidade de grandes bancos de dados validados para treinar os algoritmos e garantir que eles reconheçam com precisão a diversidade de elementos encontrados na urina. No entanto, a IA já é uma realidade em muitos laboratórios e promete revolucionar a forma como a urinálise é realizada (De Bruyne et al., 2023).
FONTES DO ARTIGO
Al Lawati, H., Blair, B. M., & Larnard, J. (2024). Urinary Tract Infections: Core Curriculum 2024. American journal of kidney diseases : the official journal of the National Kidney Foundation, 83(1), 90–100. https://doi.org/10.1053/j.ajkd.2023.08.009
De Bruyne, S., De Kesel, P., & Oyaert, M. (2023). Applications of Artificial Intelligence in Urinalysis: Is the Future Already Here?. Clinical chemistry, 69(12), 1348–1360. https://doi.org/10.1093/clinchem/hvad136
Fishel Bartal, M., Lindheimer, M. D., & Sibai, B. M. (2022). Proteinuria during pregnancy: definition, pathophysiology, methodology, and clinical significance. American journal of obstetrics and gynecology, 226(2S), S819–S834. https://doi.org/10.1016/j.ajog.2020.08.108
Haq, K., & Patel, D. M. (2023). Urinalysis: Interpretation and Clinical Correlations. The Medical clinics of North America, 107(4), 659–679. https://doi.org/10.1016/j.mcna.2023.03.002
Ingelfinger J. R. (2021). Hematuria in Adults. The New England journal of medicine, 385(2), 153–163. https://doi.org/10.1056/NEJMra1604481
Kouri, T. T., Hofmann, W., Falbo, R., Oyaert, M., Schubert, S., Gertsen, J. B., Merens, A., Pestel-Caron, M., & Task and Finish Group for Urinalysis (TFG-U), European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (EFLM) (2024). The EFLM European Urinalysis Guideline 2023. Clinical chemistry and laboratory medicine, 62(9), 1653–1786. https://doi.org/10.1515/cclm-2024-0070
Nelson, Z., Aslan, A. T., Beahm, N. P., Blyth, M., Cappiello, M., Casaus, D., Dominguez, F., Egbert, S., Hanretty, A., Khadem, T., Olney, K., Abdul-Azim, A., Aggrey, G., Anderson, D. T., Barosa, M., Bosco, M., Chahine, E. B., Chowdhury, S., Christensen, A., de Lima Corvino, D., … Mena Lora, A. J. (2024). Guidelines for the Prevention, Diagnosis, and Management of Urinary Tract Infections in Pediatrics and Adults: A WikiGuidelines Group Consensus Statement. JAMA network open, 7(11), e2444495. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2024.44495
Williams, J. C., Jr, Gambaro, G., Rodgers, A., Asplin, J., Bonny, O., Costa-Bauzá, A., Ferraro, P. M., Fogazzi, G., Fuster, D. G., Goldfarb, D. S., Grases, F., Heilberg, I. P., Kok, D., Letavernier, E., Lippi, G., Marangella, M., Nouvenne, A., Petrarulo, M., Siener, R., Tiselius, H. G., … Robertson, W. G. (2021). Urine and stone analysis for the investigation of the renal stone former: a consensus conference. Urolithiasis, 49(1), 1–16. https://doi.org/10.1007/s00240-020-01217-3