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Ferritina

Ferritina

Este artigo foi revisto pela última vez em 27 de Outubro de 2008.

Este artigo foi modificado pela última vez em 24 de Maio de 2019.

Amostra:
Sangue 

É necessária alguma preparação?
Aconselhável 8 horas de jejum.

Por que fazer este exame?
Para avaliar as reservas de ferro do corpo. Pode ser utilizada como marcador inflamatório ou  de gravidade em algumas doenças.

O que está sendo pesquisado?

Antes de falar sobre a ferritina é importante fazer uma breve exposição sobre o íon ferro. Esse eletrólito corrobora com o transporte de oxigênio, produção de energia e é catalisador e cofator de reações enzimáticas. Apesar disso, o excesso de ferro é tóxico para o corpo e leva a um estresse oxidativo. Por esse motivo, a ferritina é tão importante, pois a sua principal função é armazenar o ferro do nosso corpo. [1]

Assim sendo, a ferritina é uma proteína multimérica que consegue estocar entre 4.500-5.000 átomos de ferro. Localiza-se predominantemente no citosol, líquido que preenche a célula, mas também é possível encontrá-la em outras regiões celulares como no núcleo, mitocôndrias, lisossomos e sangue. Além de estar envolvida com o armazenamento do ferro, auxilia na manutenção da concentração celular desse íon, promove o sequestro do ferro de patógenos invasores e, proteção contra estresse oxidativo estresse oxidativo [1]. 

Essa proteína é composta por duas cadeias, uma leve (L-ferritina) e outra pesada (H-ferritina). A primeira é responsável pelo armazenamento do ferro férrico (Fe+3), enquanto que a última tem como finalidade permitir a ligação do ferro ferroso (Fe+2) para ser oxidada em Fe+3. A proporção das cadeias mudam de acordo com a localização desta proteína. Por exemplo, no sangue é encontrado mais subunidades da L-ferritina, o que significa que ela é mais propensa a transportar o ferro do que carregar o ferro de outra célula [1].  

Em pessoas saudáveis, ocorre a absorção diária aproximada de 1-2 mg de ferro vindos da dieta, mas o corpo necessita de 25 mg. Então, de onde vem o restante do ferro? Antes de responder, vale dizer que entre 3-5 g de ferro contidos no corpo estão presentes nos glóbulos vermelhos. Isso permite que o ferro em nosso organismo seja reciclado de modo que a quantidade desse metal reaproveitado seja de 25 vezes a adquirida na dieta. Isso ocorre a partir da atuação dos macrófagos na quebra de eritrócitos (hemácias) senis. Essa quebra ocorre predominantemente no baço e isso permite a liberação do ferro que será captado e armazenado pela transferrina plasmática. Tudo isso é orquestrado pelo eixo hepcidina-ferroportina  [2,3]. 

Apesar disso, o ferro é absorvido pela dieta e enfrenta destinos diferentes: a) pode ser armazenado na ferritina; b) liberado da célula pela ferroportina e utilizado (por exemplo, para síntese de heme) [2,3]. 

A alta disponibilidade de ferro nas células estimula a hepcidina a promover efluxo desse íon dos eritrócitos e macrófagos e isso culmina na diminuição da quantidade ferro circulante. Quando o ferro disponível é insuficiente para as necessidades do corpo, as reservas de ferro são consumidas e os níveis de ferritina diminuem, uma vez que é necessário o ferro para a sua produção. Isso ocorre por processo complexo que promove a degradação da ferritina, de modo que isso permite a liberação do ferro armazenado [3].

As reservas de ferro e os níveis de ferritina aumentam quando é absorvido mais ferro do que o necessário para o corpo. A absorção crônica e o excesso desse metal provoca acúmulo nos tecidos e pode causar disfunção ou insuficiência. Isso ocorre na hemocromatose, uma doença hereditária em que o corpo absorve ferro em excesso, mesmo com uma dieta normal [3].

Perguntas Frequentes

A ferritina pode ser analisada por várias metodologias, principalmente, por imunoensaio enzimático (EIA), turbidimetria, eletroquimioluminescência, radioimunoensaios (RIA) e ensaios imunorradiométricos (IRMA) [5]. 

O que significa o resultado do exame?

Os níveis de ferritina são em geral avaliados em conjunto com outros exames do ferro. Níveis séricos de ferritina se correlacionam com os estoques totais de ferro corporal. Aproximadamente, 1 ng/ml de ferritina equivale a 8-10 mg de ferro armazenado [5]. 

Valores elevados podem refletir distúrbios hereditários e adquiridos de desordens como hemocromatose ou terapia transfusional. Já valores baixos de ferritina podem indicar quadros de anemia. A ferritina sérica tem sido descrita como um marcador de inflamação aguda e crônica e é elevada em uma infinidade de condições inflamatórias, incluindo Artrite Reumatoide, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Doença Renal Crônica, Doença do Coronavírus 2019 (COVID-19) causada pelo vírus SARS-CoV-2, infecção aguda, tireoidite e outros  [1]. 

Há hiperferritinemia associada a elevados níveis de ferro correlacionados com alguns tipos de neoplasias. Além disso, a desregulação do mecanismo do ferro e elevados níveis de ferritina foram detectados em doenças neurológicas como Doença de Alzheimer e Doença de Parkinson [1].  

Algumas patologias contribuem para a redução da absorção de ferro. Como exemplo temos a infecção por Helicobacter pylori (competição pelo ferro, aumento do PH e redução da vitamina C), doença celíaca (enteropatia induzida pelo glúten), gastrite atrófica e doença inflamatória intestinal. É importante salientar que procedimentos cirúrgicos realizados no trato gastrointestinal podem contribuir para redução do ferro e, consequentemente, da ferritina. Alimentos como cálcio, fitatos (presentes em cereais) e taninos (presentes nos chás e café) podem inibir a absorção desse íon [2]. 

Um resumo das alterações desses exames em diversas doenças é mostrado na tabela abaixo.

DoençaFerroTransferrinaFerritinaHemoglobinaHepcidina
Deficiência de ferroBaixaBaixaBaixaBaixaBaixa
Hemocromatose HereditáriaAltaAltaAltaNormalBaixa
Anemia de Doenças crônicasBaixaBaixaNormal ou altaBaixaAlta
Anemia ferropriva refratária ao ferroBaixaBaixaBaixaBaixaAlta

Fonte: Clin Chim Acta. 2021;523:454-468.

Os testes normais para diagnosticar a deficiência de ferro têm limitações importantes que interferem na análise clínica. Como exemplo, os níveis de ferro sérico podem ser baixos tanto em processos inflamatórios quanto em deficiência de ferro. Já a capacidade total de ligação do ferro é específica quando para avaliar deficiência de ferro, mas não é sensível, pois um processo inflamatório, desnutrição e idade  podem reduzir falsamente esse marcador. Desse modo, a ferritina é o marcador com melhor desempenho para demonstrar deficiência de ferro [6].

Alguns estudos sugerem que não há razão fisiológica para que os valores de ferritina sérica normal deva diferir entre homens e mulheres. A maioria dos laboratórios usa um achado estatístico descritivo para definir seu intervalo de referência de ferritina. Há recomendações de se utilizar o valor de 50 ng/ml como limite, pois somente acima desse valor é que os limites basais de ferro retornam ao seu estado normal após a compensação fisiológica mediante a um estado de redução de ferro [6].

Porque a ferritina fornece o ferro mediante a necessidade desse metal. Quando o organismo identifica que há necessidade de ferro, a ferritina é degradada e significativa quantidade desse metal se torna disponível. Consequentemente, a quantidade de ferritina será reduzida e a de ferro se normaliza, num primeiro momento [3].

Revisado em 20/12/2024 por Edy Alyson.

  1. Plays M, Müller S, Rodriguez R. Chemistry and biology of ferritin. Metallomics. 2021;13(5):mfab021. doi:10.1093/mtomcs/mfab021.
  2. Cappellini MD, Musallam KM, Taher AT. Iron deficiency anaemia revisited. J Intern Med. 2020;287(2):153-170. doi:10.1111/joim.13004.
  3. Correnti M, Gammella E, Cairo G, Recalcati S. Iron Absorption: Molecular and Pathophysiological Aspects. Metabolites. 2024;14(4):228. Published 2024 Apr 17. doi:10.3390/metabo14040228.
  4. Ferritin. Testing.com. Published June 18, 2021. https://www.testing.com/tests/ferritin/ ‌.
  5. Garcia-Casal MN, Peña-Rosas JP, Urrechaga E, et al. Performance and comparability of laboratory methods for measuring ferritin concentrations in human serum or plasma: A systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2018;13(5):e0196576. Published 2018 May 3. doi:10.1371/journal.pone.0196576. 
  6. Martens K, DeLoughery TG. Sex, lies, and iron deficiency: a call to change ferritin reference ranges. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2023;2023(1):617-621. doi:10.1182/hematology.2023000494.
  7. Sandnes M, Ulvik RJ, Vorland M, Reikvam H. Hyperferritinemia-A Clinical Overview. J Clin Med. 2021;10(9):2008. Published 2021 May 7. doi:10.3390/jcm10092008
  8. Rana S, Prabhakar N. Iron disorders and hepcidin. Clin Chim Acta. 2021;523:454-468. doi:10.1016/j.cca.2021.10.032