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Cálcio Total e Ionizado

Cálcio Total e Ionizado

Este artigo foi revisto pela última vez em 27 de Outubro de 2008.

Este artigo foi modificado pela última vez em 24 de Maio de 2019.

Também conhecido como:

  • Cálcio ionizado
  • Cálcio ionizável

Amostra:
Sangue 

É necessária alguma preparação?
Atualmente não se exige jejum ou qualquer outra preparação para o teste. No entanto, alguns fármacos podem alterar o resultado. 

Por que fazer este exame?
Para determinar se os níveis de cálcio no sangue estão dentro dos limites normais.

O que está sendo pesquisado?
O cálcio é um dos minerais mais importantes no corpo. É essencial para o funcionamento adequado dos músculos, nervos e coração. Vale ressaltar, também, sua importância para a coagulação do sangue e formação dos ossos. Cerca de 99% do cálcio são encontrados nos ossos e dentes, enquanto que o restante (1%) circula no sangue, líquido extracelular e tecidos moles [1]. 

O cálcio total se encontra no soro e plasma sanguíneo e é constituído, principalmente, de duas formas: a) inativo e ligado a proteínas; b) livre e ativo como íon Ca+2, conhecido como cálcio iônico. Este corresponde a cerca de 47% do cálcio plasmático e é útil para fornecer Ca+2 caso haja necessidade agudamente.  O cálcio ligado à proteína corresponde a 40% e, desses, 80% se liga à albumina e 20% à globulina. Os 8-10% do cálcio plasmático estão associados à ácidos orgânicos e inorgânicos (fosfatos, sulfatos e citratos)  [1].

Perguntas Frequentes

Como parte de um painel metabólico de rotina, em doença dos rins, ossos ou nervos, ou quando existem sintomas de concentrações de cálcio significativamente aumentadas ou diminuídas.

Os seres humanos necessitam da ingestão diária de cálcio. É necessário um consumo diário de 1.000mg de cálcio elementar (Ca+2), cerca de 400 mg são absorvidos e aproximadamente 200 mg são excretados pelo intestino. Com isso, 800 mg de cálcio são eliminados pelas fezes. Esses 400 mg absorvidos, direcionam-se ao fluido extracelular e ao plasma, isso, associado ao cálcio do organismo, corresponde a cerca 10.000 mg de cálcio. Desse, 200 mg serão eliminados pelos rins, restando algo em torno de 9.800mg para as múltiplas reações do organismo. Dentre essas, divide-se a função do cálcio em intra e extracelular (veja tabela 1) [1].

Tabela 1- Função intracelular e extracelular do cálcio:

IntracelularExtracelular
Contração muscularModulação da secreção do Paratormônio (PTH) – Paratireoide
Condução nervosaLactação (em gestantes) – Mamas
Proliferação e diferenciação celularModulação do cálcio, reabsorção de fluidos e secreção ácida – Rins
Metabolismo do trifosfato de adenosina (ATP)Secreção ácida gástrica, absorção de nutrientes, motilidade e secreção de fluídos – Trato Gastrointestinal
Coagulação sanguíneaRegulação do recrutamento e diferenciação de osteoclastos e osteoblastos – Ossos

 

A homeostase do cálcio é mantida por meio da interação entre intestino, osso e rins, os quais serão guiados por hormônios como paratormônio (PTH), 1,25-dihidroxivitamina D (1,25(OH)2D) e fator de crescimento de fibroblastos 23 (FGF23). Além disso, há receptores celulares para o cálcio (CaSRs), os quais detectam perturbações nas concentrações plasmáticas desse íon. Dito isso, a paratireoide contém CaSRs, logo, a secreção do PTH é muito sensível às alterações de Ca+2 na corrente sanguínea. Então, uma redução do cálcio iônico, eleva o PTH, o contrário também é verdadeiro. O PTH aumenta as concentrações de cálcio por liberar cálcio dos ossos (favorece a produção de citocinas nos osteoblastos e favorece a formação de osteoclastos), promove a reabsorção de cálcio e magnésio renal (logo, reduz a concentração de cálcio urinário), inibe a reabsorção de fosfato no túbulo proximal e, por fim, estimula a atividade da 1-alfa-hidroxilase nos rins [1].  

Em resumo:

  • Há duas formas principais de cálcio na circulação sanguínea: a forma iônica e a ligada a proteína, juntos constituem o cálcio total. 
  • Cálcio é encontrado do soro e plasma sanguíneo
  • Cálcio iônico corresponde a 47% do cálcio plasmático
  • 40% do cálcio se liga, predominantemente, à albumina e, em menor quantidade, a globulina
  • A albumina deve ser considerada na mensuração de cálcio
  • Cálcio atua em meio intracelular e extracelular

 

O cálcio total pode ser analisado por Fotometria com alteração mensurável da cor ou turbidez da solução. Já o cálcio iônico pode ser mensurado pela Potenciometria, a qual consiste em uma célula eletroquímica composta de dois eletrodos conectados por uma solução eletrolítica que conduz íons [3].

As alterações do cálcio geram condições de hipercalcemia e hipocalcemia [4]. Os níveis totais de cálcio podem não refletir com precisão os níveis de cálcio ionizável. Baixo nível de albumina pode mascarar a hipercalcemia, enquanto a albumina elevada pode resultar em “pseudo-hipercalemia”. Por esse motivo, quando há possibilidade de alteração proteica (em casos de doença renal, distúrbios ácido-básico, distúrbios aniônicos), prefere-se a dosagem de cálcio iônico [5,6].

O cálcio também é usado para avaliar a saúde de modo geral. Além disso, pode ser solicitado junto com outros testes mediante às condições que afetam os ossos, rins, sistema digestório, tireoide e a glândula paratireoide. Vale dizer, que o teste do cálcio total faz parte de um Painel Metabólico Básico e de um Painel Metabólico Abrangente, os quais são utilizados como exames de rotina  [2]

A hipercalcemia ocorre quando a entrada de cálcio no soro excede a capacidade de depósito ósseo e/ou excreção renal. O excesso de cálcio promove vasoconstrição arterial aferente e reduz a taxa de filtração glomerular. Pode causar diabetes insípido nefrogênico pela regulação negativa da aquaporina [5].

Uma pessoa com hipercalcemia pode ser assintomática. Em casos agudos variando de moderado a grave. Os sintomas são [4,5]:

  • Fraqueza muscular
  • Bloqueio atrioventricular
  • Confusão
  • Coma
  • Nefrocalcinose
  • Doença coronariana 
  • Poliúria, polidipsia 
  • Desidratação
  • Anorexia
  • Náusea e vômitos
  • Constipação

Assim como a hipercalcemia, a hipocalcemia também pode ser assintomática. No entanto, quando ocorrem sintomas podem acometer praticamente todas as áreas do corpo. Seguem os principais sintomas de hipocalcemia [4,6]:

  • Espasmos musculares,
  • Parestesia (perioral e extremidades)
  • Sinal de Trousseau 
  • Sinal de Chvostek
  • Tetania
  • Crises epilépticas
  • Prolongamento do QT
  • Hipotensão
  • Insuficiência cardíaca
  • Laringoespasmos
  • Arritmias
  • Papiledema 
  • Catarata
  • Alopecia 
  • Xeroderma 

O médico pode pedir o teste de cálcio ionizado quando a pessoa sente dormência em volta da boca ou nas mãos e nos pés, e apresenta espasmos musculares nos mesmos locais.  Esses podem ser sintomas de cálcio ionizado baixo. Entretanto, quando os níveis de cálcio caem lentamente, muitas pessoas não apresentam qualquer sintoma [6].

Apesar da baixa precisão, antes de avaliar o cálcio total é importante mensurar a quantidade de proteínas totais, principalmente, a albumina. Um algoritmo estipula que o cálcio total plasmático diminui em aproximadamente 0,8 mg/dl (0,2mmol/L) para cada 1g/dl (10g/L) na concentração de Albumina. Por esse motivo, sugere-se corrigir o cálcio total pela albumina, utiliza-se duas fórmulas: [(0,8 x (Concentração normal de albumina – Concentração de albumina do paciente) +Ca sérico (em mg/dl)] ou [ 0,02 x (Concentração normal de albumina – Concentração de albumina do paciente) + Ca sérico (em mmol/l)] [1,5]. 

Considera-se o cálcio total como dentro dos parâmetros de normalidade quanto o seu valor encontra-se entre 8,5-10,5 mg/dL (2,12-2,62 mmol/L). Já o cálcio iônico o valor adequado seria entre 4,8-5,6 mg/dL (1,20-1,40 mmol/L) [5]. Em contrapartida, a hipocalcemia é definida pelo nível de cálcio total corrigido menor do que 8,5 mg/dL (2,12 mmol/L) [6].

As causas de hipercalcemia são [5]:

1. Aumento da reabsorção óssea: 1.1 Mediada por PTH 1.1.1 Hiperparatireoidismo primário esporádico 1.1.2 Hiperparatireoidismo primário familiar/hereditário 1.1.3 Câncer da paratireoide 1.1.4 Hiperparatireoidismo terciário 1.1.5 Drogas (ex Lítio) 1.1.6 Malignidade 1.2 Não mediado por PTH 1.2.1 Malignidade 1.2.2 Imobilização 1.2.3 Toxicidade por vitamina A 1.2.4 Hipertireoidismo 1.2.5 Drogas 2. Aumento da absorção gastrointestinal: 2.1 Mediada por vitamina D 2.1.1 Hipervitaminose 2.1.2 Mediada por 1,25 dihidroxivitamina D 2.2 Não Mediada por Vitamina D 2.2.1 Deficiência da lactase 2.2.2 Deficiência da sucrase-isomaltase 3. Redução do clearance renal 3.1 Drogas – tiazídicos 3.2 Síndrome de Milk-alkali 3.3 Doença renal 3.4 Síndrome de Bartter 3.5 Insuficiência adrenal 4. Outros mecanismos 4.1 Redução de depósito ósseo 4.2 Redistribuição – Rabdomiólise 4.3 Outros

 

As causas de hipocalcemia são [6]:

1. Mediados pelo PTH: 1.1 Doenças genéticas 1.1.1 Hipoparatireoidismo familiar isolado 1.1.2 Hipocalcemia autossômica dominante 1.1.3 Pseudo-hipoparatireoidismo 1.1.1 Doença de Wilson 1.1.4 Hemocromatose 1.2 Distúrbios adquiridos 1.2.1 Hipoparatireoidismo pós-cirúrgico 1.2.2 Hipomagnesemia 1.2.3 Hipermagnesemia 1.2.4 Síndrome poliendócrina autoimune tipo 1 1.2.5 Transfusão sanguínea 1.2.6 Radioterapia 1.2.7 Metástase esclerótica 2. Não mediadas pelo PTH: 2.1 Genético 2.1.1 Raquitismo dependente de vitamina D tipo 1 e 2 2.1.2 Raquitismo hipocalcêmico resistente a vitamina D 2.1.3 Osteoporose 2.1.4 Hiperparatireoidismo materno 2.2 Adquirido 2.2.1 Deficiência de vitamina D 2.2.2 Má absorção 2.2.3 Doença renal crônica 2.2.4 Síndrome do “osso faminto” 2.2.5 Doença hepática terminal 2.2.6 Pancreatite aguda 2.2.7 Transfusões sanguíneas 2.2.8 Drogas (diuréticos de alça, fosfato, EDTA, anticonvulsivante, sulfato de magnésio, calcitonina, bisfosfonatos, cinacalcete)

As principais fontes de cálcio são leite e outros produtos lácteos. Alguma quantidade razoável de cálcio é encontrada em peixes e produtos compostos de peixe. Além disso, leguminosas, nozes, sementes e vegetais verdes também podem conter cálcio. Há um risco excessivo de nefrolitíase, nefrocalcinose, dispepsia, constipação e calcificações vasculares relacionadas a suplementação de cálcio. Portanto, o limite superior desejável de ingestão de cálcio varia entre 2.500mg nas crianças com mais de 1 ano e 3.000 mg em adultos [1]. A gestação, lactação, crescimento, idade, menopausa modificam a homeostase do cálcio [1].

Revisado em 30/12/2024 por Edy Alyson.

  1. Matikainen N, Pekkarinen T, Ryhänen EM, Schalin-Jäntti C. Physiology of Calcium Homeostasis: An Overview. Endocrinol Metab Clin North Am. 2021;50(4):575-590. doi:10.1016/j.ecl.2021.07.005. 
  2. MedlinePlus. Calcium Blood Test: MedlinePlus Lab Test Information. Medlineplus.gov. Published 2023. https://medlineplus.gov/lab-tests/calcium-blood-test/ ‌
  3. Cheong YH, Ge L, Lisak G. Highly reproducible solid contact ion selective electrodes: Emerging opportunities for potentiometry – A review. Anal Chim Acta. 2021;1162:338304. doi:10.1016/j.aca.2021.338304.
  4. Schmidt M, Steinbach D, Federbusch M, et al. Evidence-based cutoffs for total and adjusted calcium: a major factor in detecting severe hypo- and hypercalcemia. Clin Chem Lab Med. 2023;62(7):1367-1375. Published 2023 Dec 13. doi:10.1515/cclm-2023-0805.
  5. Walker MD, Shane E. Hypercalcemia: A Review. JAMA. 2022;328(16):1624-1636. doi:10.1001/jama.2022.18331.
  6. Pepe J, Colangelo L, Biamonte F, et al. Diagnosis and management of hypocalcemia. Endocrine. 2020;69(3):485-495. doi:10.1007/s12020-020-02324-2.