Testagem genética clínica
Teste genético clínico refere-se à analise laboratorial do DNA ou do RNA para ajudar no diagnóstico da doença. É muito importante entender que os testes genéticos clínicos são bem diferentes de outros testes laboratoriais. Os testes genéticos são únicos no fato de que podem fornecer um diagnostico definitivo bem como prever a chance de se desenvolver uma doença em particular, antes mesmo que os sintomas apareçam. Com eles se consegue-se saber se um indivíduo é portador de um gene específico que pode ser passado para os seus filhos; se um tratamento irá funcionar, antes mesmo de o paciente ter iniciado a terapia. Essas são vantagens definitivas. Entretanto, existem também algumas qualidades dos testes genéticos que devem ser cuidadosamente pensadas e, talvez, discutidas com um profissional de aconselhamento genético, antes de ser submeter a qualquer teste. Esses aspectos estão revistos na seção intitulada Prós e contras dos testes genéticos. Em uma era de responsabilidade dos pacientes, é muito importante que você aprenda sobre essas questões para poder saber decidir o valor bem como as inconveniências dos testes genéticos.
Testes de material genético
Os testes de material genéticos são realizados em uma variedade de amostras biológicas, incluindo sangue, saliva, fezes, tecidos corpóreos, ossos ou cabelos. As células nessas amostras são isoladas e seu DNA é extraído e examinado para possíveis mutações ou alterações. A observação de pequenas porções do DNA dentro de um gene requer testes laboratoriais especializados e específicos. Isto é feito para apontar a localização exata dos erros genéticos. Esta seção irá abordar o exame dos genes de uma pessoa para encontrar aquele(s) responsável(is) por uma doença em particular.
Existem quatro razões básicas para se testar o material genético por motivos clínicos. A testagem pré-sintomática identifica a presença de genes variantes que causam doença mesmo se a anormalidade física associada com a doença ainda não está presente. O diagnóstico é realizado em um indivíduo sintomático com sintomas suficientemente sugestivos da doença genética. Isto auxilia o médico a fazer um diagnóstico claro.
O teste do material genético pode ser feito como uma ferramenta de rastreio pré-natal, para investigar se duas pessoas que querem se tornar pais saberem se possuem um gene autossômico ou recessivo ligado ao X, que, quando combinados em uma criança, irá produzir nela uma doença séria. Esse tipo de teste genético é chamado de rastreio de portador. Fetos se desenvolvendo no útero materno também podem ter seu material genético testado para investigar o seu status de saúde, caso acredite-se que esteja em risco.
É necessário algum tipo de material celular para a testagem do DNA por razões médicas. Esse material pode vir do sangue, urina, saliva, tecidos corpóreos, medula óssea, cabelos etc. A amostra pode ser colocada em um tubo, em um swab em um frasco ou congelada. Se o teste requerer RNA, o mesmo material pode ser usado. Uma vez recebido no laboratório, as células são removidas da substância de onde se encontram e quebradas, e o seu DNA no núcleo é isolado e extraído.
Os profissionais que fazem e interpretam esses testes são médicos e cientistas especialmente treinados. O DNA extraído é manipulado de diferentes maneiras, para o patologista molecular ou técnico geneticista ver o que pode estar faltando ou mutado de maneira a causar doença. Um tipo de manipulação é o corte do DNA em pequenos pedaços usando enzimas especiais. Esses pedaços são muito mais fáceis de se testar do que as longas fitas do DNA íntegro e eles contêm os genes de interesse. Outra manipulação é aplicar os pedaços do DNA extraído em um gel de agarose, submetendo-o a um campo elétrico e ver como o DNA se move no gel. Isto pode indicar diferenças de tamanho dos pedaços cortados do DNA, os quais podem ser causados por mutações.
Outro tipo de manipulação inclui a amplificação, sequenciamento ou um procedimento especial, chamado hibridização. Quando o resultado desses testes são examinados e comparados com os resultados de indivíduos normais, é possível ver as diferenças nos genes que podem causar doenças.
Doenças genéticas específicas
Existem várias doenças que hoje se acredita serem causadas por alterações no DNA. Estas podem ser herdadas ou ocorrer espontaneamente. Algumas doenças que têm um componente genético a elas incluem:
Muitas coisas podem acontecer de errado com os genes que fazem o DNA, resultando nessas e em outras doenças. A seção abaixo apresenta o que pode acontecer ao DNA e, especificamente, aos genes que levam à doença.
Variação genética e mutação
Toda variação genética ou polimorfismos originam-se do processo de mutação. Variações genéticas às vezes ocorrem durante o processo de divisão das células somáticas (mitose). Outras podem acontecer durante a meiose, o ciclo de divisão que acontece nas células espermáticas ou óvulos. Algumas variações são passadas de geração em geração, adicionando mais e mais mudanças ao longo dos anos. Algumas vezes, estas mutações levam a doenças, outras vezes não há nenhum efeito perceptível. As variações genéticas podem ser classificadas em diferentes categorias: variações genéticas estáveis, instáveis, silenciosas e outros tipos.
Variações estáveis são causadas por mudanças em um único nucleotídeo e são chamadas polimorfismos de nucleotídeo único ou SNP (pronuncia-se "snip”). Incluem:
- Substituições, onde um nucleotídeo é trocado por outro;
- Deleções, onde um único nucleotídeo é perdido;
- Inserções, onde um ou mais nucleotídeos são inseridos em um gene.
Se o SNP causa a produção de um novo aminoácido, este é chamado uma mutação com “troca de sentido” (missense mutation). Um exemplo é a anemia falciforme, onde um nucleotídeo é substituído por outro. A variação genética no gene leva à adição de um aminoácido diferente à proteína, resultando em uma proteína que não executa adequadamente o seu serviço, produz uma célula em forma de foice e que não carrega o oxigênio.
Variações genéticas instáveis ocorrem quando uma sequência de nucleotídeos é repetida várias e várias vezes. Isto é chamado de “repetição” e, em geral, é normal. Entretanto, se o numero de repetições aumentar muito, diz-se que há “repetição expandida”. Descobriu-se que é a causa de muitas doenças genéticas. Um exemplo resultante de uma repetição expandida é a doença de Huntington, grave, que ocorre em parte do cérebro e se caracteriza por demência, hidrocefalia e movimentos não usuais.
Variações genéticas silenciosas são aquelas mutações ou mudanças em um gene que não alteram a proteína produzida pelo gene. Rararamente resultam em doenças.
Outros tipos de variações ocorrem quando um gene completo é duplicado em algum local do genoma do indivíduo. Quando isso acontece, estão presentes cópias adicionais do gene e são formados produtos proteicos adicionais. É o caso da doença de Charcot-Marie-Tooth Tipo 1, que afeta os nervos periféricos. Algumas variações ocorrem em partes especiais de um gene que controlam a cópia do DNA em RNA. Quando o momento biológico da produção do produto proteico é afetado, resulta na menor produção da proteína. Outras variações incluem um defeito em um gene que faz uma proteína que conserta o DNA quebrado em nossas células. Esta variação pode resultar em muitos tipos de doença, incluindo câncer colorretal e uma doença de pele chamada Xeroderma Pigmentoso.
Testes dos produtos da expressão gênica
Muitas doenças herdadas são identificadas indiretamente, examinando anormalidades no produto genético final (proteínas ou metabólitos) que estão presentes em formas ou quantidades anormais. Lembrando: os genes codificam a produção de milhares de proteínas e, se há um erro no código, estas mudanças podem afetar a produção dessas proteínas. Portanto, ao invés de detectar o problema no gene, alguns testes procuram observar achados incomuns relacionados às proteínas pertinentes, como a sua ausência.
Um exemplo de um teste para um produto genético inclui aqueles largamente usados para fazer o rastreio em recém-nascidos para várias doenças. Por exemplo, recém-nascidos são testados para fenilcetonúria (PKU), doença autossômica recessiva hereditária, causada por uma variação em um gene que faz uma enzima especial, que quebra o aminoácido fenilalanina. Quando muito desta substância se acumula no sangue, ela pode levar a retardo mental, se não for tratada precocemente com uma dieta restritiva especial. O teste usa uma amostra de sangue do calcanhar de um bebe para procurar pela presença de aumento de fenilanalina, ao invés de procurar pelo gene mutado. Outros exemplos incluem os testes sanguíneos para hipotireodismo, diagnosticado pela quantidade baixa ou pela ausência desse hormônio no sangue e hiperplasia adrenal congênita, que leva à diminuição do hormônio cortisol no sangue.