Aquela recomendação para tentar reduzir os níveis de colesterol com medicamentos é um exemplo da medicina baseada em evidências. As orientações foram alteradas com base nas conclusões de cinco estudos clínicos que testaram os resultados dos medicamentos para baixar o colesterol em pacientes de maior risco.
Outro exemplo de um exame de laboratório que tem diretrizes baseadas em evidências que desenham o seu uso correto é o teste de hemoglobina A1c, ou hemoglobina glicada, usado no controle do diabetes. Através da medição de glicose ligada à hemoglobina, o exame apresenta um retrato do valor médio de glicose no sangue nos últimos 2 a 3 meses.
Um estudo de cinco anos feito nos Estados Unidos chamado Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) demonstrou que o controle rigoroso dos níveis de glicose através de um tratamento agressivo e acompanhamento reduz a incidência de complicações que podem fazer do diabetes uma doença debilitante.
O teste de hemoglobina A1c tem sido uma parte importante do controle do diabetes, mas com os resultados do DCCT, a capacidade do teste para rastrear o controle glicêmico a longo prazo tornou-se ainda mais significativa. Agora é um componente chave no controle da doença. Este reconhecimento levou a orientações sobre a frequência das dosagens e dos níveis desejados, que são revistos regularmente e ocasionalmente atualizados, razão pela qual esses níveis podem mudar.
Os exames laboratoriais, como o de colesterol, desempenham um papel fundamental na medicina, mas a informação que fornecem é apenas uma parte do processo clínico que foi concebido para proporcionar melhores resultados. Os resultados do colesterol não são considerados isoladamente, mas no contexto de seus fatores de risco.
Os pesquisadores estão constantemente à procura de novos e melhores testes, mas muitas vezes quando um teste é introduzido, falta-nos um retrato completo de seu contexto clínico, e pode levar algum tempo para saber a maneira correta de aplicar a informação que ele proporciona. Esta incerteza pode levar a problemas quando a imprensa divulga o último grande teste, e os pacientes começam a perguntar a seus médicos sobre o assunto.
“Há testes muito populares, mas nós realmente não sabemos onde eles se encaixam", disse Robert Flaherty, um médico de atendimento primário, que é professor de medicina baseada em evidências na Universidade Estadual de Montana (Montana State University),nos Estados Unidos. “Um deles é a homocisteína. Níveis elevados de homocisteína estão associados a um risco aumentado de doença cardíaca. Mas o que vemos é que se você diminuir os níveis de homocisteína, parece que o risco não diminui.”
Flaherty faz uma distinção entre "tratar um número", como um nível de colesterol ou de homocisteína, e tratar um paciente. A razão final para tomar um medicamento que diminui o colesterol é reduzir o risco de ataque cardíaco, e os ensaios clínicos encontraram os medicamentos que, de fato, diminuem esse risco. Mas ainda não está claro o contexto do teste de homocisteína para essa redução.
“É importante perceber o que o teste de laboratório está nos dizendo, e geralmente ele nos diz de uma associação entre uma determinada substância química e uma doença", diz Flaherty. "Então, o que precisamos fazer é verificar se o tratamento que faz a substância retornar ao valor normal na verdade reduz a incidência da doença.”